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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Doha: agora vai?


  

    A Rodada Doha começou em 2001. Até agora não terminou. Essas negociações entre países que aderiram à OMC tinham como objetivo o desenvolvimento por meio do aumento do comércio internacional. Um dos principais itens da pauta era o comércio de produtos agrícolas. Estas mercadorias ainda enfrentam barreiras protecionistas, muito mais duras que aquelas impostas aos produtos industriais. Daí a mobilização dos países em desenvolvolvimento (G-20) e dos países exportadores de produtos agrícolas (Grupo de Cairns) para conseguirem acesso à grandes mercados como EUA, União Européia e Japão.
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    Parece que os países mais protecionistas não entenderam os benefícios que o livre-comércio pode lhes proporcionar. EUA, UE e Japão insistiram durante toda a rodada em oferecer concessões pífias em redução de tarifas de produtos agrícolas e sobre subsídios a esses produtos. Sua disposição era enterrar o assunto e conseguir liberalização dos países em desenvolvimento nos demais setores. Entretanto, em Cancún, em 2003, Brasil e India orquestraram uma rebelião que deixou os países ricos furiosos.  Estes últimos, então, acusaram o G-20 de travar as negociações. Setores da imprensa brasileira deram uma barrigada comprando a versão estadunidense.
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    A partir daí tudo foi ficando mais complicado. Veio a crise econômica mundial e o clima de negociação se acabou. Uma divergência temporária entre Brasil e India foi a gota d'água. Parecia que estava tudo enterrado. Recentemente, porém, alguns atores se esforçam para conseguir algum avanço na Rodada. O Brasil e o presidente da OMC, Pascal Lamy, tentam buscar algum ponto que seja de consenso para que um acordo. Afinal, no meio do impasse deve haver algum consenso e perder a chance de incrementar o comércio seria desperdício.
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   Interessante no meio de toda essa discussão é analisar as diferenças internas de percepção. No caso brasileiro é nítido que o Ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores dá grande ênfase à retomada das negociações, gozando de amplo apoio do Presidente Lula. A análise do Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, é um pouco distinta: ainda que diga que as negociações devam ser tocadas, confessou que acredita que ao final não resultarão em grande acordo, e que a abertura de mercados se dará por conta das necessidades de importação dos países centrais frente a competitividade da agricultura brasileira.
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  Os países mais importantes fecharam um acordo para retomar a Rodada Doha em julho. Até agora os avanços não foram nem de perto àqueles esperados para antes de crise. Diante de tal cenário, é bom analisar com atenção a tese do Ministro Stephanes. Achei um pouco absurda no início, mas em alguma medida, dependendo da retomada da economia mundial, ela pode se concretizar.