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domingo, 26 de junho de 2011

Um código florestal para o mundo




A reforma do Código Florestal ainda está dando o que falar. Qualquer que seja o resultado, ao final, o novo código contemplará uma área de reserva a ser preservada pelos próprios produtores rurais. Hoje já é assim: é o agricultor quem paga. Ela continuará sendo de no mínimo 20% da propriedade, sendo que em algumas regiões pode chegar até 80%. Essa área ainda será acrescida das áreas de preservação permanente (beira de rios, riachos, e nascentes), também dentro das propriedades agrícolas. Sem dúvida, é um presente dos agricultores brasileiros para o país e para o mundo.

Ninguém mais faz isso. Na cidade onde moro, ao se comprar um terreno na área urbana posso construir em toda a sua área. Não sou obrigado a preservar nada, a prefeitura é que tem esse dever. Na zona rural da Holanda, onde já morei, o agricultor planta em várzea, em beira de rio, só não planta em topo de morro porque lá não existe. Lá na Holanda, a obrigação de comprar áreas para preservação é do Estado. O agricultor não se envolve. Sua obrigação é produzir alimentos. Uma das fotos acima é da região na qual morei na Holanda (sem floresta) e a outra é da região de uma usina de açúcar e álcool na qual trabalhei em Mato Grosso do Sul (com APP e Reserva Legal - note a existência de florestas).

No Brasil os agricultores se tornaram parte da solução na questão ambiental. Os produtores rurais brasileiros, às suas expensas, preservam áreas de floresta. Não só o Estado tem unidades de conservação, mas o agronegócio contribui. Aqui existe a verdadeira multifuncionalidade da propriedade rural. Os nossos concorrentes, porém, não fazem o mesmo. Temos que competir num mercado injusto, enfrentando um verdadeiro "dumping ambiental" de agricultores de União Européia, EUA e Canadá que não precisam contribuir com nada, desmataram tudo e podem plantar em 100% de suas áreas. A nossa soja e nosso milho preservam florestas, os deles não.

Está na hora do Brasil convidar os agricultores do mundo todo a fazer o que nós já fazemos: preservar a natureza e garantir a biodiversidade. O mundo precisa de um código florestal, precisa ao menos de padrões mínimos mundiais. Não é a solução da degradação ambiental do planeta, mas seria uma pequena contribuição que precisa ser valorizada. Vamos elevar o nível do debate: incentivar que os agricultores europeus, às suas próprias expensas, também preservem a natureza. Até eles criem reserva legal e áreas de preservação permanente eu estarei de boicote: não comprarei queijos franceses, nem pão integral alemão. Eles destruíram a floresta!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Formalizar a produção para baixar os juros?


Crédito rural ainda é um gargalo para a produção agropecuária brasileira. O regime está em transição. Desde a criação da Cédula do Produto Rural - CPR até as inovações mais recentes, o esforço tem sido para criar novos mecanismos que estabeleçam segurança jurídica. Segurança de que aqueles que acessam o crédito sejam produtores honestos e não oportunistas que pegam o dinheiro e dão calote. Isso se traduz em juros mais viáveis - os bons não pagam pelos maus. O seguro agrícola completa o sistema ao honrar contratos mesmo com quebras de safra por conta das secas, geadas e chuvas de granizo.

O fato é que o crédito oficial, especialmente para custeio é curto para as necessidades dos agricultores. Como as taxas de juros são abaixo do mercado, seu financiamento só acontece porque o Governo Federal obriga os bancos a separarem uma parte de seu crédito para este fim. Como os juros estão abaixo do mercado, a demanda por esse dinheiro barato é alta. Fica faltando recurso. Daí não só os novos mecanismos auxiliares como CPR, mas também os contratos de gaveta com as exportadoras serem o complemento do financiamento da lavoura. Esses financiamentos auxiliares são cada vez mais importantes.

Mas o que pode ser feito para que os juros do financiamento agropecuário sejam acessíveis? Segundo estudos do Prof. Guilherme Dias, pesquisador da USP e consultor da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a formalização das empresas rurais, com um sistema de contabilidade confiável pode ser a solução. Dias afirma que ao se constituírem como empresas, num formato semelhante ao que ocorre hoje com o Simples, os produtores rurais seriam obrigados a produzirem informações sobre os seus negócios. Os bancos em posse de tais informações seriam mais precisos ao calcular os riscos de cada negócio possibilitando a queda de juros reais aos produtores honestos.

Parece uma ideia interessante. Pela teoria econômica faz sentido. Quem tem informação pode precificar melhor o risco. Quem é honesto e não oferece risco, paga menos. Se for mantida a tendência de redução gradual da taxa de juros de mercado, num futuro breve o crédito para os produtores rurais iria aumentar. Os bons não pagariam pelos maus. Só tem um problema: todo esse raciocínio só funciona se houver competição entre financiadores. Entretanto, as evidências parecem dizer que não há existe tal concorrência entre os bancos. Como ocorre com os insumos, a diferença de poder entre os agricultores e os bancos, pode fazer com que parte dos ganhos seja abocanhada pelas entidades financeiras.

Por fim, resta ainda um entrave. Mesmo com a boa vontade da CNA em formalizar os produtores rurais, com certeza haverá oposição. Infelizmente a agropecuária ainda é utilizada como forma de lavagem de dinheiro. Assim, qualquer tentativa de dar transparência aos negócios sofre uma oposição silenciosa mas violenta de quem poderia perder a oportunidade de evadir a fiscalização. Estes farão uma campanha pesada, escondendo seus reais motivos e apregoando a destruição da privacidade. A luta será dura. Vamos torcer para que as reformas e a formalização avancem e para que os bons não paguem pelos maus. Só desta forma é que a agropecuária brasileira vai ter financiamento para continuar sua trajetória de sucesso que beneficia a todo o país.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Para o agronegócio falar e ser ouvido




Na democracia o voto não é tudo. Os grupos precisam convencer a sociedade sobre a importância de seus projetos. Para que boas idéias de um setor se transformem em políticas públicas é preciso demonstrar os benefícios que retornarão para toda a sociedade. O agronegócio como gerador de empregos, divisas e renda também tem as suas demandas para continuar a desempenhar esse importante papel no desenvolvimento no país. Os agricultores precisam de financiamento adequado, de logística eficiente, de insumos de qualidade e a preços acessíveis, de redução de riscos, de sanidade agropecuária, de racionalidade tributária, de acesso a mercados etc, e para conseguir os recursos necessários têm que sensibilizar a sociedade e os governos.

Este trabalho de convencimento não é simples. Os recursos de qualquer país são limitados e as demandas imensas. Todos os setores da sociedade querem ser ouvidos e querem ter as suas cobranças atendidas. Por conta disso nas democracias modernas, cada vez mais complexas, as empresas, os sindicatos e os setores econômicos profissionalizaram a comunicação social e a representação de interesses. Quem quer ser ouvido precisa saber o que falar, quando e para quem. Não dá para improvisar. Com o agronegócio não é diferente, é um setor que diante da visibilidade precisa saber responder aos questionamentos da sociedade, precisa saber convencer os governos e para conseguir alcançar seus objetivos precisa de uma boa comunicação institucional.

O agronegócio brasileiro avançou muito em sua comunicação. Antes havia negligência, hoje instituições como a ABAG, a CNA, a OCB, se aperfeiçoaram e conseguem ser ouvidas. Com elas chega a voz de milhões de pessoas que vivem em cidades pólo do agronegócio e que dependem de seu bom desempenho para melhorar de vida e crescer. Não só essas organizações, mas muitas outras representam e defendem a agropecuária brasileira. No entanto, nem todas estão igualmente profissionalizadas. Alguns representantes do setor, bem intencionados, mas sem a devida capacitação e experiência para comunicar, acabam sendo tão estridentes que afastam qualquer interlocutor.

Nenhum jornalista, deputado, secretário ou diretor aguenta o João Reclamão, aquele que vive da gritaria e dos ataques generalizados e que tem incapacidade de explicar o que lhe perguntam. É incrível, mas ainda existem setores do agronegócio que escolhem representantes que mais atrapalham do que ajudam. Acreditam que todos estão contra seu setor, não colaboram com nada, e criam um ciclo vicioso de perda de prestígio. Atacar indiscriminadamente os representantes eleitos e os profissionais da administração pública pode parecer tolice quando se quer algo do governo, mas é exatamente isso que alguns desses "representantes" fazem.

Por outro lado, alguns setores abraçaram de vez a profissionalização. As associações que representam as carnes: UBABEF, do frango, ABIEC da carne bovina e a ABIPECS da suína contrataram executivos seniores para seu alto escalão como ex-ministros e ex-secretários que possuem canais abertos na administração pública. A UNICA, que representa a cana e a BR CITRUS, a laranja, se fiaram em professores universitários do mais alto gabarito, com capacidade de entender problemas complexos e boas habilidades de comunicação. O staff de todas elas é composto por profissionais buscados no mercado, desde os médios até os juniores, não há improvisação. Seu foco é o resultado para o associado.

Esse é o modelo de sucesso para a representação do agronegócio: confiar nos especialistas. Os amadores que andam por aí estão com os dias contados, sua forma de trabalho conhecida como a "diplomacia do anapion", ou seja, a gritaria e a denúncia não dão mais resultados. A incompetência aparece. O agronegócio merece mais, só profissionais que entendem de políticas públicas, assuntos técnicos e com ótima capacidade de comunicação poderão trazer as ações que o setor tanto precisa. A mudança já começou, as vitrines de sucesso estão postas, cabe aos demais setores seguir mudando. Os interesses legítimos, como os do agronegócio, merecem ser representados.