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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Agregar valor: para frente ou para trás?




           Falar em agregação de valor há muito virou lugar comum. Na agropecuária então, nem se fala. Parece pecado exportar produto bruto, sem refinar, sem industrializar, sem beneficiar. Se alguém está num debate sobre exportações e não sabe bem o que falar, basta dizer "agregar valor" que será rapidamente incluído no grupo. O problema é que quando conceitos se disseminam dessa forma, a possibilidade de seu uso de forma errada aumenta. Passa a se prescrever um mesmo remédio para qualquer mal, sem levar em conta a natureza de cada problema.

       Em primeiro lugar precisamos deixar claro que país que exporta commodities não é necessariamente país pobre, como se repetiu ao longo de décadas. Austrália, Nova Zelândia e Canadá tem suas pautas exportadoras com participação expressiva de produtos agropecuários e minérios. É claro que o Brasil tem uma população muito maior, e precisará gerar muitos empregos e de qualidade, o que provavelmente não será possível só com produtos básicos. Mas isso não impede que o país capitalize seus ganhos neste setor.

      Há também uma expectativa muito grande que a agroindustrialização gere ganhos fantásticos. É a chamada agregação para frente na cadeia: transformar laranja em suco, soja em óleo e farelo, açúcar bruto em refinado. Ocorre que essas atividades não são tão lucrativas, não geram empregos de qualidade na quantidade desejada. Ademais, países importadores taxam mais produtos acabados que básicos, a chamada escalada tarifária, o que faz com que essas indústrias tenham lucratividade baixa.

           Por outro lado pouca gente percebe que, com a modernização, a agropecuária é consumidora importante de insumos e que para trás da cadeia produtiva há muito valor. O país que exporta açúcar mas que precisa importar caminhão, tratores, usinas, software, projetos, fica com poucos recursos circulando na economia. Já quem consegue, como o Brasil, fabricar desde colheitadeiras de cana, até inseticidas biológicos, passando pelo software da usina e projetos de implantação de produção agrícola, ganha muitos empregos e faz os recursos captados no exterior circularem em seu parque produtivo.

                Os especialistas já sabem: no agronegócio há mais valor para ser agregado na parte de trás da cadeia, do que ficar moendo suco de laranja. Os insumos são um universo para ser explorado nas políticas industriais. Falta isso ficar mais claro para o grande público e seus representantes parlamentares. Eles são os legítimos tomadores de decisão, sendo assim não basta os técnicos saberem, é preciso que o consenso seja menos simplista e que todos reconheçam o potencial da cadeia do agronegócio para o desenvolvimento do país. Especialmente na "parte de trás" da cadeia produtiva.  

domingo, 24 de julho de 2011

Por uma agricultura de baixo carbono

     

      Conciliar políticas públicas é a arte do equilíbrio. O objetivo da política agrícola é aumentar a produção de alimentos para o abastecimento nacional e para criar excedentes para exportação. Já a política ambiental visa preservar o meio e incentivar o desenvolvimento sustentável. Conseguir mais produção agrícola com menos impacto tornou-se um desafio considerável, que requer conhecimento técnico e capacidade de construir consenso. Depois da emergência do tema aquecimento global, emitir menos carbono e capturá-lo tem sido um problema a ser encarado pelos setores produtivos do mundo todo, inclusive para a agricultura do Brasil.

      A agricultura, como qualquer atividade humana, traz impactos ao meio ambiente. Isso não quer dizer que não possa ser parte da luta contra o aquecimento. O agronegócio brasileiro tem caminhado para um patamar de maior sustentabilidade: áreas de preservação na propriedade agrícola, reciclagem de embalagens de defensivos, fitossanidade com produtos mais seletivos, eficiência energética. Agora, com o consenso de que carbono (entre outros gases) no ar esquenta a Terra, o desafio é que a agricultura seja incentivada a capturá-lo mais do que emiti-lo. O Brasil poderá contar com a agricultura para fazer sua parte nesta luta.

      O ministério da agricultura e a confederação nacional da agricultura estão com projetos para incentivar a chamada agricultura de baixo carbono. São incentivos a técnicas que foram desenvolvidas ao longo de décadas. Tais técnicas como: plantio direto na palha, recuperação de pastos degradados (o que evita desmatamentos), integração lavoura-pecuária, fixação biológica de nitrogênio, uso de esterco para gerar energia - ajudam a diminuir o carbono na atmosfera sem perda de produtividade na produção de alimentos. São os primeiros passos enquanto mais estudos são produzidos para entender melhor o processo de captura e para aprimorar as técnicas.

       Estamos no caminho certo. Há análises que dizem que os EUA só não assinaram o protocolo de Kyoto porque sabiam que sua agricultura era geradora líquida de gases estufa, porque ara solos saturados de carbono, liberando-o. Aqui é o contrário: a palha captura o carbono e fixa-o num solo pobre em matéria orgânica incorporada. O mais interessante é que o programa de agricultura de baixo carbono do Brasil está sendo plenamente integrado à política agrícola. Quem busca apoio para produzir alimentos é direcionado a adotar técnicas mais sustentáveis. Mais uma vez a agropecuária brasileira mostra sua liderança e mostra o caminho para minimizar o aquecimento global. 

        

terça-feira, 19 de julho de 2011

Adubando dá: mas e o adubo, vai dar?



     Quando era Ministro da Agricultura o Deputado Reinhold Stephanes iniciou uma mudança no setor de fertilizantes. Pouca gente entendeu a importância e a profundidade do tema. Tem gente que dá como certa a competitividade da agricultura brasileira, acredita que é uma vantagem comparativa dada pela natureza e não uma vantagem competitiva construída com investimentos em tecnologia agropecuária, insumos, capacidade empresarial e logística. Sendo competitiva, como de fato é, a agropecuária precisa estar atenta para manter sua capacidade, e ter fertilizantes - que em geral compõem mais de 20% dos custos de diversos cultivos - a preços acessíveis e com garantia de abastecimento.

     Os três grandes componentes nutrientes utilizados como fertilizantes (fósforo, nitrogênio e potássio) são tão estratégicos para a agricultura quanto o minério de ferro é para a siderurgia. O nitrogênio (nitratos e uréia) tem seu custo dado pelo petróleo ou pelo gás natural, e embora o Brasil produza, as indústrias estão no litoral, longe das áreas produtivas, especialmente do Centro-Oeste e Sul. Mais indústrias serão necessárias. O fósforo (fosfatos), embora tenha produção nacional, é em boa parte importado. Há cálculos que predizem que se esgotará antes que o petróleo. Já o potássio (em forma de cloreto) é quase que totalmente importado, nossas minas em exploração são muito incipientes. Entretanto há muitas reservas de potássio na Amazônia que ainda não são utilizadas.

     Neste cenário de dependência de fertilizantes importados, mesmo com potencial de produção no Brasil, é que se percebeu que o setor necessitava de regulação. Com o velho Código de Minas em vigor muitas jazidas eram apropriadas por pessoas que não as exploravam, só especulavam para vender em época de alta. Se houvesse um distúrbio mundial, o Brasil ficaria descoberto, porque um projeto de exploração não se inicia do dia para a noite. O passo essencial nesse sentido é a reforma do código, inclusive com a criação de uma lei especial só para fertilizantes. Quem tiver direitos vai ter que explorar e produzir. Vai ser mais uma opção de abastecimento para a agricultura.

     Ademais, os fertilizantes são historicamente e em qualquer parte do mundo dominado por poucas empresas. Se não houver regulação, nenhum ganho é repassado aos consumidores de fertilizantes, fica tudo com os produtores. Por isso, a Secretaria de Assuntos Estratégicos  chegou a propor uma estatal de fertilizantes não para monopolizar, mas para aumentar a concorrência do setor. Uma boa idéia é a do CCAB - Consórcio de Cooperativas: fazer a importação direta de fertilizantes, chegam a pagar 30% a menos pelo mesmo produto. Ainda assim, a ideia de criação de uma agência reguladora vai ser fundamental para trazer estabilidade e bons preços para os fertilizantes.

     É preciso ficar atento com o andamento da proposta. Vai passar pelo congresso, e no meio de tantos interesses que serão discutidos no novo código de minas, como royalties aos Estados, os fertilizantes podem ficar perdidos. Os agricultores precisam ficar atentos e saber que a discussão é de seu interesse. Cidades inteiras dependem do bom desempenho da agropecuária, e esta depende de fertilizantes acessíveis e com garantia. A criação de uma agência e a implementação da regulação do setor mineral tem tudo a ver com o agronegócio. Como o empreendedor dessa política pública não é mais ministro, a pressão do setor agrícola é mais do que necessária Já sabemos que adubando dá, é preciso garantir que o adubo vai dar.