Site Meter

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O seguro e o fundo de catástrofe




  O seguro rural precisa deslanchar. Afinal, agricultura é atividade de risco, exposta a secas, granizo, enxurradas. Se o agricultor ficar devendo por causa de quebra de safra, mesmo que tenha condições de pagar no médio prazo, no curto ninguém dá crédito. Ou seja, já está falido. Todo mundo perde: alguém com know-how e capacidade de plantar fica com máquinas paradas. Empregos no setor de insumos e na indústria de alimentos são ameaçados, e as divisas externas caem para abaixo do potencial.
           
  Mas, cada risco é um risco diferente. Seguro de automóvel é simples: você paga um prêmio todo o ano, e os  acidentes que ocorrem com uns poucos são pagos com parte do prêmio recebido de todos. O que sobra é lucro da seguradora e pagamento dos custos operacionais. O número de acidentes é mais ou menos estável, dificilmente o valor arrecadado fica abaixo dos pagamentos por sinistro.
  
seguro rural é mais complexo. Quando há seca grave, o valor dos pagamentos excede em muito o valor recebido pelas apólices. Se uma seguradora tiver uma carteira concentrada no rural, pode quebrar, e aí não paga ninguém. Por isso, os limites que elas podem assegurar ainda são tão baixos. Saída: transferir risco. É o que faz o modelo norte-americano, o modelo espanhol e muitos outros.
    
 No Brasil estamos tentando criar o Fundo de Catástrofe para o seguro rural. A idéia é simples: cada seguradora coloca um pouco todo ano, o governo e a indústria colaboram, e quando houver uma catástrofe, como uma seca, parte das indenizações serão pagas com recursos do fundo. Ninguém quebra, e o risco é diluído ao longo dos anos.
 
 Mas há dificuldades. O antigo Fundo de Estabilização (FESR), ainda em vigor, é um fracasso. Seguradoras eficientes pagam pelas ineficientes. Ninguém quer participar. É preciso evitar que isso se repita. Falta, também, saber qual será a proporção entre recursos públicos e privados, uma vez que até o Ministério da Fazenda deu seu aval ao projeto, acreditando que diminuirá a avalanche de dívidas rurais contraídas por falta de um bom seguro. Os valores estimados, no entanto, ainda estão abaixo do desejado pelo setor.
 
 E at last but not least, fica a questão de quais situações poderão dar causa a uso dos recursos do fundo. Se qualquer evento climático der causa, o fundo quebra. Se for inacessível, o fundo será inútil. Está posto o desafio de definir precisamente o que é castástrofe. Um perigo parece estar afastado: que políticos usem o fundo para beneficiar suas regiões eleitorais em detrimento dos outros segurados. A administração deve ficar com técnicos das seguradoras e resseguradoras. Mas definir quando e porque usar o fundo ainda é uma grande icógnita.
 
 Diante de um aparente impasse, uma solução sábia do Deputado Micheletto: convocar audiências públicas. Isso mesmo, democracia direta, onde cada um diz o que pensa e quais são seus legítimos interesses. Da discussão, nasce a solução... e a mobilização. Quem sabe envolvendo os agricultores, objetos - e agora sujeitos da política pública-, não nasça um acordo eficaz. Vamos torcer pelo sucesso!

3 comentários:

  1. Concordo plenamente com os comentários, o planejamento e extratégias para assegurar que haja soluções caso aconteça problemas é muito melhor do que chorar e amaldiçoar os infortúnios.

    Mônica Gonçalves

    ResponderExcluir
  2. Recebi a sugestão de reproduzir no blog, http://gppusp.blogspot.com/. Caso esteja de acordo tudo bem. Caso discorde, por favor me avisa. Qual a diferença entre preço mínimo e seguro para a agricultura? Em minha ignorância, pensava que o preço mínimo era a garantia do produtor em receber mesmo com a quebra da safra. Percebo agora que preço mínimo é outra coisa e que o assunto levantado por ti é muito rico. Pretendo em uma das próximas disciplina do curso de GPP, fazer grupos de trabalhos para me familiarizar com o assunto e propor debates.

    Obrigado.


    Basilio

    ResponderExcluir
  3. Basílio,

    Estou de acordo com a publicação sim. Aliás, me deu até uma idéia de criar um post sobre a diferença entre preço mínimo e seguro. Para adiantar, resumo: seguro é cobrir o risco de você plantar, mas por conta de seca ou geada, não produzir nada; já preço mínimo é sobre o risco de preço, por exemplo, se você planta, consegue colher normalmente, mas o preço por saca for tão baixo que não cubra nem seus custos de produção (diesel, fertilizante, financiamento das máquinas, mão-de-obra temporária, sementes etc.). O preço mínimo é para garantir que pelo menos os custos serão cobertos.

    ResponderExcluir